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José Araújo é um
piloto que iniciou a sua carreira nos ralis, e enquanto militou no extinto Campeonato
Nacional de Ralis Iniciados colecionou vitórias na Promoção Citroen AX e no Troféu
Micra. Fez uma breve incursão pela velocidade e em 2001 regressou aos ralis em "full
time" para se revelar um dos principais animadores do Troféu Saxo Total de ralis. A
sua rapidez em 2001 foi várias vezes limitada pelos azares mecânicos, acabando por se
ficar pela 4ª posição final do troféu, facto que não o impediu no entanto de ser umas
das principais figuras deste troféu. Nesta entrevista, o piloto de Joane fala da forma
como correu a sua época e apresenta também o seu projecto para 2002, que passa por uma
"mudança de ares" mas mantendo-se nas provas de estrada, afinal a disciplina em
que ele provou ser um adversário de respeito e onde no pretérito ano mostrou também ser
um acérrimo defensor da verdade desportiva, facto que lhe pode ter custado alguns
dissabores. |
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A dupla José Araújo /
Octávio Araújo apresentou-se à partida do Troféu Saxo como uma das duplas favoritas
às vitórias, só que a prova inaugural acabou por se encarregar de mostrar qual iria ser
a sua sorte no resto da temporada. "Quando entramos no Troféu
Saxo o objectivo era lutar pelas vitórias, só que as coisas começaram mal logo no
primeiro rali o Rali F. C. do Porto onde abandonamos após termos efectuado
o melhor tempo na primeira classificativa. A partir daí tivemos de correr no sentido de
recuperar um atraso grande mas as coisas não correram bem no resto da época. Perdemos um
bom resultado nos Açores por uma classificativa em que nos aconteceu de tudo, depois
houve a questão polémica da desclassificação no Casinos de Espinho que nos fez
continuar a perder terreno, mas esta última situação foi a que permitiu que o troféu
se decidisse na última prova e que nós nos mantivéssemos com hipóteses até ao
penúltimo rali." Um
rol de azares em sete ralis que apenas lhe permitiram chegar a uma vitória, e mesmo essa
teve os seus sobressaltos. José
Araújo explica prova a prova como foram as coisas no ano em que nem os patrocínios
abundaram. "No Rali do F. C. do Porto demos um salto que fez romper um tubo
do radiador, partimos o motor e levamos logo um grande "rombo" no já magro
orçamento. Em Oliveira do Hospital tivemos problemas com o eixo traseiro e depois com os
travões, mas mesmo assim ainda conseguimos um 2º lugar. Nos Açores aconteceu uma coisa
incrível, numa só classificativa tivemos três percalços que deitaram todo o trabalho
por terra: Apareceram-nos duas vacas na classificativa, depois o motor calou-se durante 6
minutos e para terminar saímos de estrada quase no fim da PEC, íamos sem notas perdidos
no meio do troço e com um grande stress pelo que tinha acontecido. Essa PEC decidiu o
nosso rali e daí o 4º lugar na prova. |
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- A fase de terra mostrou-se azarada para a
dupla ART
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Na fase de asfalto
ganhamos no Rota do Vidro, mas ainda tivemos um problema de um barulho provocado por uma
chapa que pensávamos ser o motor de arranque, esta situação não seria significativa se
não tivéssemos penalizado 2 mins. a substituir o motor de arranque. No rali de Espinho
perdemos por meio segundo, mantivemos a nossa diferença para os adversários que estavam
atrás de nós pelo que concluímos que estávamos com o andamento que nos tinha dado a
vitória no Rota do Vidro, a diferença foi o Armindo Araújo que andou mais, pensamos que
o facto de somente ter chovido na última classificativa nos permitiu chegar perto dele,
porque caso contrário a diferença teria sido superior a 30 seg. |
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No Algarve voltei
não ter sorte, após uma curva muito apertada quase no final da terceira classificativa
da 2º secção, pisamos uma paralelo que furou o pneu dianteiro direito e só nos
apercebemos uns metros 100 metros à frente, quando curvamos para esquerda e saímos em
frente, nem na travagem antes da curva onde saímos, o carro reagiu como se estivesse
furado. Caímos uns metros abaixo da estrada, e apesar do carro nada ter sofrido não foi
possível retirá-lo de lá. Fomos para o Rali Sport / Rota do Dão com ideia de ganhar,
visto que seria, no nosso entender, a prova em que os carros estariam absolutamente legais
e iguais. Como não tinha nada a perder, ao contrário do Armindo e do Hugo, arriscamos
logo na primeira ronda com pneus de seco, só que essa aposta acabou de vez com qualquer
hipótese de chegarmos à vitória, pois os pisos estavam muito molhados e toda a gente
foi com pneus de chuva, acabando nós por perder segundos que seriam irrecuperáveis
nomeadamente para o andamento dos dois primeiros que estavam a lutar pela vitória final
no troféu. A partir daí optei por pensar no troféu e ir buscar o 4º lugar final para
não correr o risco de perder tudo a arriscar uma recuperação, pois se desistisse
poderia perder o 5 ou 6º lugar no troféu, o que em termos de prémios monetários era
significativo." Um dos
pontos mais "quentes" deste troféu foi a contestação à legalidade do carro
de Armindo Araújo, tendo José Araújo avançado com um protesto que acabou por
trazer-lhe a surpresa da desclassificação, a sua e a do seu adversário no rali Casino
de Espinho. No entanto, nem a verificação dos carros se mostrou pacífica, tendo José
Araújo algo a lamentar. "Fui acusado não ter seguido em frente na
verificação aos carros, mas a verificação seria de acordo com o regulamento de grupo A
e como nós estávamos num troféu dificilmente haveria algo que pudesse ser considerado
ilegal, pois o regulamento de grupo A é muito menos restritivo que o do troféu. Não
sabia que a verificação em caso de protesto seria de acordo com o Grupo A, é um erro
meu que assumo totalmente, mas, de facto, todas as indicações que me deram antes da
prova iam no sentido das verificações serem à luz do regulamento particular do troféu,
o que iria de acordo com o espírito de qualquer protesto. Mesmo assim o piloto
da "Araújo Racing Team" realça o facto
deste caso poder ter servido para alguma coisa "O facto inegável, é que
depois do protesto todos os carros passaram a andar a um nível muito mais idêntico o que
possibilitou que houvesse luta até ao último troço do último rali do campeonato."
Apesar de toda a polémica, José Araújo
encontrou em Armindo Araújo um adversário de respeito, facto que o piloto não nega, mas
atribui a responsabilidade desta situação à Citroen "Este protesto que
tanta polémica causou deveu-se apenas a dúvidas que todos os pilotos, envolvidos no
troféu, tinham sobre o carro do Armindo Araújo. Reconheço que ele conduz muitíssimo
bem e terá oportunidade de continuar a prová-lo em 2002, mas também reconheço que o
ambiente de suspeição tinha chegado a um nível inaceitável, muito por culpa da
Citroën que vendo o que se passava não fez o necessário para que ninguém tivesse
dúvidas quanto à legalidade dos carros. A nossa equipa não foi a única a ter dúvidas,
acho que toda a gente, incluindo a comunicação social que acompanha as provas e outros
pilotos não envolvidos no troféu as tiveram. |
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"Quando corri no
troféu Micra nunca houve nada disto, não havia este clima de desconfiança que se viveu
em 2001. Acho que a Citroen deveria criar duas estruturas independentes, uma para o Kit
Car e outra para o Troféu, porque o facto de misturar tudo faz com que não existam meios
humanos suficientes e como tal não é possível dar a devida atenção ao troféu. Acho
que deveriam por todos os meios tornar as coisas o mais claras possíveis de forma a que
este troféu tivesse a credibilidade que a marca merece, já que utiliza um carro muito
robusto e competitivo, mesmo à medida de uma iniciativa destas, e porque as verbas
envolvidas por cada equipa chegam muito facilmente à dezena de milhar de contos no final
da época." |
- A fase de asfalto teve o melhor e o pior,
permitiu a primeira vitória, mas também marcou o afastamento da luta pelo título antes
da derradeira prova.
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Terminada a época,
é tempo de olhar em frente, para novos projectos que passam pela continuação no
nacional de ralis, só que de Peugeot 206. "Este ano o projecto passa
por um conduzir um Peugeot 206, é um carro que tem as mesmas características técnicas
do Saxo pelo que já estarei habituado. Será talvez um pouco mais performante que o Saxo
porque utilizará um motor mais desenvolvido e uma caixa de velocidades melhor. Estamos a
tentar envolver alguns concessionários no projecto para ver se fazemos uma coisa ao
melhor nível. Muito embora para a primeira prova do Campeonato ainharemos, muito possivelmente, com um Renault Clio
RS da equipa da "Solução Rallyes" de Ricardo Oliveira. O meu objectivo em 2003
passa por conduzir um carro mais competitivo, mas se isso não acontecer, pode muito bem
ser um troféu..... talvez o 206." Quem sabe se em 2003 não poderá lutar
pelo título, para começar o piloto defende o anunciado fim dos WRCs em 2003
"Eu sou a favor de acabar com os WRCs no nacional de ralis. Reconheço que o
verdadeiro espectáculo é dado por eles, mas se abrirmos o campeonato só a Kit
Cars o número de participantes ao nível de marcas oficiais aumentará, até porque
fazer correr 2 carros da Formula Super 1600 é mais barato que fazer correr um só WRC, e
como tal a competitividade e o interesse também aumentarão. Além disso pode ser que se
crie um mercado de pilotos em Portugal que é algo que ainda não existe. Penso como tal
que neste momento é a melhor opção a tomar." Apesar
dos apoios terem sido escassos, José Araújo não quer deixar de agradecer aos que
estiveram ao seu lado ao longo do ano "Gostava de agradecer à Filinto Mota, eles foram
realmente fantásticos nas 3 épocas em que me apoiaram, desde 1999 a 2001, sendo a
empresa que nos possibilitou disputar o troféu até ao fim. Por isso a nossa equipa
agradece o apoio de todos os funcionários da Filinto Mota Guimarães, nomeadamente
do seu representante o Sr. Conde, e o Sr. Cláudio Oliveira. Não esquecendo também os
outros 2 apoios que tivemos que vieram da parte das empresas Couto & Brandão, e da
Água Glaciar. E claro está, a todos aqueles que nos apoiaram nos troços e estiveram do
nosso lado quer nas vitórias quer nas derrotas" |
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