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    Entrevista - José Araújo 
16012002_JAraujo.JPG (30878 bytes) José Araújo é um piloto que iniciou a sua carreira nos ralis, e enquanto militou no extinto Campeonato Nacional de Ralis Iniciados colecionou vitórias na Promoção Citroen AX e no Troféu Micra. Fez uma breve incursão pela velocidade e em 2001 regressou aos ralis em "full time" para se revelar um dos principais animadores do Troféu Saxo Total de ralis. A sua rapidez em 2001 foi várias vezes limitada pelos azares mecânicos, acabando por se ficar pela 4ª posição final do troféu, facto que não o impediu no entanto de ser umas das principais figuras deste troféu. Nesta entrevista, o piloto de Joane fala da forma como correu a sua época e apresenta também o seu projecto para 2002, que passa por uma "mudança de ares" mas mantendo-se nas provas de estrada, afinal a disciplina em que ele provou ser um adversário de respeito e onde no pretérito ano mostrou também ser um acérrimo defensor da verdade desportiva, facto que lhe pode ter custado alguns dissabores.
A dupla José Araújo / Octávio Araújo apresentou-se à partida do Troféu Saxo como uma das duplas favoritas às vitórias, só que a prova inaugural acabou por se encarregar de mostrar qual iria ser a sua sorte no resto da temporada. "Quando entramos no Troféu Saxo o objectivo era lutar pelas vitórias, só que as coisas começaram mal logo no primeiro rali – o Rali F. C. do Porto – onde abandonamos após termos efectuado o melhor tempo na primeira classificativa. A partir daí tivemos de correr no sentido de recuperar um atraso grande mas as coisas não correram bem no resto da época. Perdemos um bom resultado nos Açores por uma classificativa em que nos aconteceu de tudo, depois houve a questão polémica da desclassificação no Casinos de Espinho que nos fez continuar a perder terreno, mas esta última situação foi a que permitiu que o troféu se decidisse na última prova e que nós nos mantivéssemos com hipóteses até ao penúltimo rali." Um rol de azares em sete ralis que apenas lhe permitiram chegar a uma vitória, e mesmo essa teve os seus sobressaltos.

José Araújo explica prova a prova como foram as coisas no ano em que nem os patrocínios abundaram. "No Rali do F. C. do Porto demos um salto que fez romper um tubo do radiador, partimos o motor e levamos logo um grande "rombo" no já magro orçamento. Em Oliveira do Hospital tivemos problemas com o eixo traseiro e depois com os travões, mas mesmo assim ainda conseguimos um 2º lugar. Nos Açores aconteceu uma coisa incrível, numa só classificativa tivemos três percalços que deitaram todo o trabalho por terra: Apareceram-nos duas vacas na classificativa, depois o motor calou-se durante 6 minutos e para terminar saímos de estrada quase no fim da PEC, íamos sem notas perdidos no meio do troço e com um grande stress pelo que tinha acontecido. Essa PEC decidiu o nosso rali e daí o 4º lugar na prova.

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A fase de terra mostrou-se azarada para a dupla ART
Na fase de asfalto ganhamos no Rota do Vidro, mas ainda tivemos um problema de um barulho provocado por uma chapa que pensávamos ser o motor de arranque, esta situação não seria significativa se não tivéssemos penalizado 2 mins. a substituir o motor de arranque. No rali de Espinho perdemos por meio segundo, mantivemos a nossa diferença para os adversários que estavam atrás de nós pelo que concluímos que estávamos com o andamento que nos tinha dado a vitória no Rota do Vidro, a diferença foi o Armindo Araújo que andou mais, pensamos que o facto de somente ter chovido na última classificativa nos permitiu chegar perto dele, porque caso contrário a diferença teria sido superior a 30 seg.
No Algarve voltei não ter sorte, após uma curva muito apertada quase no final da terceira classificativa da 2º secção, pisamos uma paralelo que furou o pneu dianteiro direito e só nos apercebemos uns metros 100 metros à frente, quando curvamos para esquerda e saímos em frente, nem na travagem antes da curva onde saímos, o carro reagiu como se estivesse furado. Caímos uns metros abaixo da estrada, e apesar do carro nada ter sofrido não foi possível retirá-lo de lá. Fomos para o Rali Sport / Rota do Dão com ideia de ganhar, visto que seria, no nosso entender, a prova em que os carros estariam absolutamente legais e iguais. Como não tinha nada a perder, ao contrário do Armindo e do Hugo, arriscamos logo na primeira ronda com pneus de seco, só que essa aposta acabou de vez com qualquer hipótese de chegarmos à vitória, pois os pisos estavam muito molhados e toda a gente foi com pneus de chuva, acabando nós por perder segundos que seriam irrecuperáveis nomeadamente para o andamento dos dois primeiros que estavam a lutar pela vitória final no troféu. A partir daí optei por pensar no troféu e ir buscar o 4º lugar final para não correr o risco de perder tudo a arriscar uma recuperação, pois se desistisse poderia perder o 5 ou 6º lugar no troféu, o que em termos de prémios monetários era significativo."

Um dos pontos mais "quentes" deste troféu foi a contestação à legalidade do carro de Armindo Araújo, tendo José Araújo avançado com um protesto que acabou por trazer-lhe a surpresa da desclassificação, a sua e a do seu adversário no rali Casino de Espinho. No entanto, nem a verificação dos carros se mostrou pacífica, tendo José Araújo algo a lamentar. "Fui acusado não ter seguido em frente na verificação aos carros, mas a verificação seria de acordo com o regulamento de grupo A e como nós estávamos num troféu dificilmente haveria algo que pudesse ser considerado ilegal, pois o regulamento de grupo A é muito menos restritivo que o do troféu. Não sabia que a verificação em caso de protesto seria de acordo com o Grupo A, é um erro meu que assumo totalmente, mas, de facto, todas as indicações que me deram antes da prova iam no sentido das verificações serem à luz do regulamento particular do troféu, o que iria de acordo com o espírito de qualquer protesto. Mesmo assim o piloto da "Araújo Racing Team" realça o facto deste caso poder ter servido para alguma coisa "O facto inegável, é que depois do protesto todos os carros passaram a andar a um nível muito mais idêntico o que possibilitou que houvesse luta até ao último troço do último rali do campeonato."

Apesar de toda a polémica, José Araújo encontrou em Armindo Araújo um adversário de respeito, facto que o piloto não nega, mas atribui a responsabilidade desta situação à Citroen "Este protesto que tanta polémica causou deveu-se apenas a dúvidas que todos os pilotos, envolvidos no troféu, tinham sobre o carro do Armindo Araújo. Reconheço que ele conduz muitíssimo bem e terá oportunidade de continuar a prová-lo em 2002, mas também reconheço que o ambiente de suspeição tinha chegado a um nível inaceitável, muito por culpa da Citroën que vendo o que se passava não fez o necessário para que ninguém tivesse dúvidas quanto à legalidade dos carros. A nossa equipa não foi a única a ter dúvidas, acho que toda a gente, incluindo a comunicação social que acompanha as provas e outros pilotos não envolvidos no troféu as tiveram.

"Quando corri no troféu Micra nunca houve nada disto, não havia este clima de desconfiança que se viveu em 2001. Acho que a Citroen deveria criar duas estruturas independentes, uma para o Kit Car e outra para o Troféu, porque o facto de misturar tudo faz com que não existam meios humanos suficientes e como tal não é possível dar a devida atenção ao troféu. Acho que deveriam por todos os meios tornar as coisas o mais claras possíveis de forma a que este troféu tivesse a credibilidade que a marca merece, já que utiliza um carro muito robusto e competitivo, mesmo à medida de uma iniciativa destas, e porque as verbas envolvidas por cada equipa chegam muito facilmente à dezena de milhar de contos no final da época."
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A fase de asfalto teve o melhor e o pior, permitiu a primeira vitória, mas também marcou o afastamento da luta pelo título antes da derradeira prova.
Terminada a época, é tempo de olhar em frente, para novos projectos que passam pela continuação no nacional de ralis, só que de Peugeot 206. "Este ano o projecto passa por um conduzir um Peugeot 206, é um carro que tem as mesmas características técnicas do Saxo pelo que já estarei habituado. Será talvez um pouco mais performante que o Saxo porque utilizará um motor mais desenvolvido e uma caixa de velocidades melhor. Estamos a tentar envolver alguns concessionários no projecto para ver se fazemos uma coisa ao melhor nível. Muito embora para a primeira prova do Campeonato ainharemos, muito possivelmente, com um Renault Clio RS da equipa da "Solução Rallyes" de Ricardo Oliveira. O meu objectivo em 2003 passa por conduzir um carro mais competitivo, mas se isso não acontecer, pode muito bem ser um troféu..... talvez o 206." Quem sabe se em 2003 não poderá lutar pelo título, para começar o piloto defende o anunciado fim dos WRCs em 2003 "Eu sou a favor de acabar com os WRCs no nacional de ralis. Reconheço que o verdadeiro espectáculo é dado por eles, mas se abrirmos o campeonato só a Kit Car’s o número de participantes ao nível de marcas oficiais aumentará, até porque fazer correr 2 carros da Formula Super 1600 é mais barato que fazer correr um só WRC, e como tal a competitividade e o interesse também aumentarão. Além disso pode ser que se crie um mercado de pilotos em Portugal que é algo que ainda não existe. Penso como tal que neste momento é a melhor opção a tomar."

Apesar dos apoios terem sido escassos, José Araújo não quer deixar de agradecer aos que estiveram ao seu lado ao longo do ano "Gostava de agradecer à Filinto Mota, eles foram realmente fantásticos nas 3 épocas em que me apoiaram, desde 1999 a 2001, sendo a empresa que nos possibilitou disputar o troféu até ao fim. Por isso a nossa equipa agradece o apoio de todos os funcionários da Filinto Mota – Guimarães, nomeadamente do seu representante o Sr. Conde, e o Sr. Cláudio Oliveira. Não esquecendo também os outros 2 apoios que tivemos que vieram da parte das empresas Couto & Brandão, e da Água Glaciar. E claro está, a todos aqueles que nos apoiaram nos troços e estiveram do nosso lado quer nas vitórias quer nas derrotas"

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